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Cúpula Humanitária em Perspectiva: Aquém das Altas Expectativas

Análise por Rodney Reynolds

ISTAMBUL (IDN) – A primeira Cúpula Humanitária Mundial da História em Istambul, que o Secretário Geral Ban Ki-moon propôs desde 2012, não atingiu suas altas expectativas, apesar de quatros anos de consultas com 23.000 pessoas em mais de 150 países.

“Esta é uma reunião das Nações Unidas do século XXI”, vangloriou-se Ban aos representantes em suas considerações iniciais. Mas a cúpula de dois dias, que foi concluída em 24 de maio, não gerou nenhum financiamento significativo nem recebeu o apoio político total dos 5 membros permanentes da ONU – Reino Unido, Estados Unidos, França, China e Rússia – cujos líderes foram poucos notados por sua ausência.

Além de Reino Unido, Estados Unidos e França, até os líderes restantes do G-7 estiveram ausentes: líderes de governo do Canadá, da Itália e do Japão evitaram comparecer à cúpula. Apenas a Chanceler alemã Angela Merkel estava em Istambul para representar as sete democracias industrializadas do mundo.

Um Secretário Geral visivelmente decepcionado foi forçado a soar otimista mesmo sob tais circunstâncias: “Mas a ausência dos líderes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Cúpula Humanitária Mundial não fornece uma desculpa para inatividade”, ele alertou.

Ele expressou “decepção” pelo fato de que apenas a chefe de governo alemã representou o G-7, cujos líderes estão se reunindo no Japão nos dias 26 e 27 de maio, com o Secretário Geral da ONU como convidado do governo japonês.

A cúpula de Istambul também foi divulgada como “um importante primeiro passo” em direção a uma reunião de alto nível dos líderes mundiais, no dia 19 de setembro em Nova Iorque, para tratar da crise dos refugiados.

Ainda assim, 173 países participaram da cúpula humanitária, que recebeu a participação de 60 líderes mundiais, principalmente dos países emergentes.

A grande conquista da cúpula foi focar em um dos mais urgentes problemas mundiais: as crescentes emergências humanitárias, desencadeadas tanto por crescentes conflitos militares quanto por desastres naturais, que tem deslocado quase 130 milhões de pessoas ao redor do mundo, reduzindo-os ao status de refugiados ou de Deslocados Internos, (IDPs, em inglês).

De acordo com a ONU, as mais severas crises humanitárias estão no Oriente Médio e na África, incluindo Iraque, Sudão do Sul, Síria e Iêmen.

Falando no Fórum Doha na capital do Qatar, apenas dois dias antes da cúpula, Ban afirmou que pessoas vulneráveis ao redor do mundo estão perguntando com propriedade: “Onde está a humanidade? ”

“Nosso apelo por financiamento permanece lamentavelmente subfinanciado. Onde está a solidariedade? ” Ele perguntou.

A Turquia foi provavelmente o local mais apropriado para a cúpula humanitária, já que tem tido um papel significativo em aliviar a crise atual. Dos cinco milhões de Sírios que fugiram do país desde que a guerra civil começou em 2011, mais de 2,7 milhões estão agora na Turquia, tornando-a o país que abriga o maior número de refugiados sírios no mundo atualmente.

Através da fronteira, no Curdistão Sírio, quase quatro milhões de pessoas precisam de apoio para cruzar a fronteira. Entretanto, menos de um quarto do financiamento necessário neste ano para ajudar os sírios e as comunidades que os abrigam tem sido contribuído.

Sara Pantuliano, Diretora Administrativa do Instituto de Desenvolvimento Internacional (ODI), afirmou: “Os compromissos firmados na cúpula não atingiram as expectativas, tanto em substância quanto em ambição, e existe pouca clareza sobre como as promessas feitas serão cumpridas e transformadas em realidade. ”

Ela afirmou que existiram iniciativas empolgantes lançadas paralelamente, mas que foram uma oportunidade perdida para enfrentar os maiores problemas no coração do sistema humanitário formal.

“Com toda a conversa sobre colocar pessoas no centro da ação humanitária, aconteceu pouca coisa que sugira que as principais figuras deste caso colocarão de lado seus interesses institucionais em benefício dos interesses de pessoas com dificuldade para sobreviver em crise”, acrescentou Pantuliano.

Enquanto isso, a ActionAid, uma das organizações ativas dos direitos humanos batalhando na crise humanitária, afirmou que estava “desanimada” pela baixa representatividade de vozes femininas na cúpula. “É realmente desmotivador ver um cronograma tão claramente dominado por homens”, disse Michelle Higelin, Co-Presidente da Plataforma Humanitária Internacional da ActionAid

Se o sistema humanitário internacional pudesse segurar um espelho em frente de si próprio, disse ela, ele veria claramente uma necessidade de mudança radical, e a necessidade urgente de mudar sua base de poder dominada por homens. “Ignorar a igualdade de gêneros no limitado espaço disponível na Cúpula de Istambul não ajuda a construir a confiança de que isso é mais do que um festival de conversas e de que a Agenda para a Humanidade não são só palavras no papel”.

Isso ocorreu apesar de o Secretário Geral da ONU insistir que era “crucial trazer mais vozes para a reunião”.

“As mulheres têm um papel vital neste caso, não apenas como recebedoras de proteção, mas como agentes da paz”, disse ele em frente à cúpula.

De acordo com a ONU, a cúpula teve pelo menos dois resultados positivos.

Os Ministros de Finanças do chamado V20, grupo dos 20 países mais vulneráveis, lançaram uma nova parceria global com as agências da ONU, incluindo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), o Programa Alimentar Mundial (WFP) e o Banco Mundial.

A parceria almeja fortalecer a capacidade de preparação dos 20 países, para que eles possam atingir o nível mínimo de preparação necessário para riscos futuros até 2020, causados principalmente por mudanças climáticas.

A ONU também se uniu com a comunidade empresarial para lançar uma grande rede global, visando facilitar o engajamento empresarial em situações de crise, incluindo o pré-posicionamento de suprimentos e a provisão de recursos, conhecimento e especialidades para prevenção de desastres.

De acordo com a ONU, a cúpula reafirmou as cinco principais responsabilidades da Agenda para a Humanidade: liderança política para prevenir e acabar com conflitos; apoiar normas que protejam a humanidade; não deixar Ninguém para Trás; mudar as vidas das pessoas, desde a entrega de apoio até a erradicação das necessidades; e investir na humanidade.

A palavra final pode ter vindo de Pierre Bertrand, um ex-diretor do Escrito de Nova Iorque do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, que disse: “No final, porém, todos devem aderir à premissa tão frequentemente invocada no Concelho de Segurança da ONU por administradores das operações humanitárias: não existem soluções humanitárias para as crises humanitárias, apenas soluções políticas”. [IDN-InDepthNews – 25 de maio de 2016]

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