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Mulher indiana ascende de oprimida a multimilionária com consciência social

Por Sudha Ramachandran

BANGALORE (IDN) – Em 2013, Kalpana Saroj, Chefe da Kamani Tubes, Ltd. (KTL), sediada em Mumbai, recebeu o Padma Shri, a quarta mais alta honraria da Índia para civis, por suas conquistas nas áreas de Comércio e Indústria.

Saroj teve sucesso na transformação do destino da KTL, uma indústria produtora de cobre de qualidade e canos e tubos de liga de cobre. Ela teve sucesso onde outros, incluindo homens poderosos e bem relacionados na indústria, falharam.

O que torna suas conquistas ainda mais impressionantes é o fato dela ser uma Dalit (antigamente conhecidos por “Intocáveis”, a casta mais inferior da hierarquia milenar de castas na Índia), e também mulher. “Sua ascensão ao topo é, sem dúvida, devido à sua força e brio pessoais,” disse Christina Thomas Dhanaraj, consultora da #dalitwomenfight, à IDN.

Fundada por Ramjibhai Kamani em 1959-60, a KTL era inicialmente um empreendimento lucrativo. E então, quando brigas sérias surgiram entre os membros da família Kamani, suas fortunas diminuíram. A empresa foi desativada repetidamente e, com perdas financeiras cada vez maiores, foi declarada como “unidade doente”. Em 1989, as operações da empresa foram delegadas a uma cooperativa de funcionários da KTL, mas também falharam em colocar a unidade de volta nos trilhos.

Foi em 2001 que os funcionários da KTL procuraram Saroj para reviver a empresa endividada e salvar seus empregos. Naquele ponto, a KTL estava afundando sob o peso de empréstimos na casa de 116 crores (1,16 bilhões) – ou 1.566 milhões de dólares e 140 casos de litígio. Muitos aconselharam Saroj a não comprar a empresa. Ela não sabia nada sobre manufatura de produtos de cobre, avisaram eles. As dívidas da empresa eram enormes. Isso a destruiria.

Porém, Saroj aceitou o desafio e, em alguns anos, não só colocou a KTL de volta em seu eixo e a tornou uma empresa lucrativa – hoje, a empresa tem um faturamento anual de 100 crores (um bilhão) – ou 135,71 milhões de dólares e a capacidade de produzir 7.000-10.000 toneladas métricas de ligas – mas ela também pagou todos os empréstimos da empresa. E mais importante, ela tirou 566 famílias da pobreza. Ela quitou todas as dívidas que a empresa devia aos funcionários em salários atrasados, que se estendiam por vários anos.

A ascensão de Saroj no mundo dos negócios na última década tem sido espetacular. O faturamento anual dos seus negócios, que se estendem de manufatura não ferrosa, produção de açúcar e construção de edifícios, está estimado em mais de 2.000 crores (20 bilhões) – ou 271,42 bilhões de dólares. Ela é membro do Conselho do Banco de Bharatiya Mahila, um banco estatal liderado completamente por mulheres, e da Câmara Indiana Dalit de Comércio e Indústria (DICCI).

Mas maior do que suas conquistas no mundo comercial está a superação memorável de Saroj dos obstáculos sociais, que merece aplausos. Saroj é uma mulher Dalit.

Os Dalits sofreram perseguições por vários milênios. Eles foram excluídos da educação, emprego, templos e espaços públicos. Eles são forçados a fazer trabalhos “sujos”, como limpar banheiros, esfolar vacas, etc.

A Índia Independente baniu a prática da Intocabilidade, isto é, a exclusão social, física e política dos Dalits. A legislação para prevenir a violência contra os Dalits entrou em vigor, e vagas para os Dalits nas escolas, cargos públicos e legislaturas foram reservadas.

Ainda assim, em todos os indicadores socioeconômicos, os Dalits estão na base da pirâmide. Eles formam a massa indiana de pessoas pobres, analfabetas, desnutridas e desempregadas.

Mulheres Dalit, como Saroj, sofrem ainda mais, pois são duplamente marginalizadas, por serem Dalits e mulheres.

Isso é particularmente real no mundo corporativo da Índia. Dalits são uma minoria aqui, e mulheres Dalit são raridade nos altos escalões, quase inexistentes.

“Mesmo que consigamos entrar, o mundo corporativo não foi criado para ser propício para que os Dalits sintam-se seguros, confiantes, ou valorizados,” diz Dhanaraj. Este é um “sistema baseado em contatos, capital social e ‘adequação à cultura’ – coisas que os Dalits não têm, uma vez que os indianos ainda são de castas e contra a criação/sustentação de relacionamentos com pessoas que eles consideram ‘inferiores” diz ela.

De acordo com Dhanaraj, “obter cargos de liderança é ainda mais difícil, não importando o quanto as pessoas se esforçam ou o quanto são inteligentes. Para mulheres Dalit, estes desafios são ainda maiores, pois elas lutam contra o patriarcado e as castas dentro dos locais de trabalho. Além de resistir aos estereótipos, elas também encontram muita dificuldade para conseguir mentores e patrocinadores.”

Nascida em uma família Dalit pobre na vila de Roparkheda no estado de Maharashtra a oeste da Índia, as dificuldades de Saroj começaram muito cedo. Não houve festas ao seu nascimento; seu tio a chamou de zehar ki pudiya (pacotinho de veneno). Na Índia, meninas são consideradas fardos pela família.

Ela teve que combater a pobreza, o patriarcado dominante na sociedade indiana, e também a perseguição social por ser uma Dalit.

A pobreza forçou os pais de Saroj a casá-la quando ela tinha apenas 12 anos de idade. Em sua nova casa em uma favela de Mumbai, Saroj era maltratada por seus sogros. Era um “inferno pessoal”, lembra ela. Quando seu pai viu sua situação, a levou de volta para sua vila.

A vida não é fácil para uma mulher indiana, especialmente uma garotinha que ousou deixar seu marido. Saroj foi ridicularizada em sua vila e a vida tornou-se insuportável, e ela tentou o suicídio. Mas o destino interveio e ela sobreviveu.

Sua sobrevivência provou ser um ponto de mudança.  Antes do suicídio, não havia “nada além de escuridão na vida”, lembra Saroj, acrescentando que ela costumava ser “muito emotiva e facilmente magoada”. Quando saiu do hospital, percebeu que lutar era parte da sua vida, e que era o “papel dela enfrentar” as dificuldades.

A próxima etapa da vida de Saroj também foi difícil, mas diferente do passado, ela não sentiu medo em enfrentar desafios.

Saroj voltou a Mumbai em busca de um emprego e começou a trabalhar como ajudante em um moinho têxtil. Ela saiu de lá e foi trabalhar em uma alfaiataria, e então montou sua própria loja de costura, seguida de uma loja de móveis. Fábricas de açúcar, imobiliárias e cinema foram o próximo passo. Em 1978, ela fundou a Sushikshit Berozgar Yuvak Sanghatana, uma organização para ajudar jovens desempregados a encontrarem empregos.

A determinação de Saroj e seu esforço a ajudaram a crescer, e ainda que seus sucessos tenham sido por mérito próprio, ela garantiu também o benefício de outros. E, mais importante, suas conquistas estão inspirando milhões de Dalits e mulheres na Índia. [IDN-InDepthNews – 12 de outubro de 2018]

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