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Apelo do Secretário-geral da ONU ao Apoio à União para o Cessar-fogo Global

Por Radwan Jakeem

NOVA IORQUE (IDN) – Num forte apelo a “um imediato cessar-fogo global em todos os cantos do mundo “, o Secretário-geral da ONU António Guterres, no dia 23 de março instou as partes em guerra em todo o mundo a largarem as suas armas em apoio ao maior combate contra a COVID-19: o inimigo comum está agora a ameaçar toda a espécie humana.

O cessar-fogo permitiria que todos os humanitários chegassem às populações que são mais vulneráveis à propagação da COVID-19, que emergiu em primeiro lugar em Wuhan, China, a 29 de dezembro de 2019, e tem sido agora relatada em mais de 180 países. Até agora, há perto de 300 000 casos no mundo inteiro e mais de 12 700 mortes, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em resposta às perguntas de repórteres que foram lidas por Melissa Fleming, chefe do Departamento de Comunicações Globais da ONU, a responsável da ONU disse que os seus Enviados Especiais trabalharão com as partes em guerra para garantir que o apelo de cessar-fogo conduza à ação.
No blogue a 24 de março, a M.na Christine Bell, que dirige o Settlements Research Programme (PSRP), saudou o apelo ao cessar-fogo defendendo que “a ameaça da COVID-19 é incomum pelo facto de ser iminente “.

Ela acrescentou: “Se a doença ocorrer em estados em conflito, é possível que este apelo seja atendido. Mas mesmo os cessar-fogos requerem acordos e diplomacia. O pensamento criativo sobre a forma de abordar o coronavírus e o conflito em conjunto poderá desempenhar um papel decisivo no acabar com as mortes desnecessárias por doenças e guerras nalguns dos lugares mais conturbados do mundo.”

Plenamente consciente dos passos necessários, o líder da ONU apelou às partes em guerra para recuarem nas hostilidades, deixarem de lado a desconfiança e animosidade, silenciarem as armas, pararem a artilharia e cessarem os ataques aéreos.

Isto ajudaria de facto a criar “corredores para a ajuda ao salvamento de vidas”, abrir “preciosas janelas à diplomacia” e levar a esperança aos lugares entre os mais vulneráveis à COVID-19, bem como a terminar “a doença da guerra e combater a doença” que está a assolar o nosso mundo.
O Sr. Guterres acrescentou nas suas observações: “Inspiremo-nos nas coligações e dialoguemos ganhando forma pouco a pouco entre as partes rivais nalguns lugares de forma a permitir abordagens conjuntas à COVID-19.”

Somente suspendendo agora as lutas em todos os lados “os mais vulneráveis – mulheres e crianças, pessoas com deficiências, marginalizados e desalojados – (que) pagam o preço mais elevado” veremos a luz ao fundo do túnel.

Os mais vulneráveis estão também em situação de maior risco de sofrerem perdas devastadoras com a COVID-19. Os profissionais de saúde, já em número escasso, têm sido frequentemente alvo. Os refugiados e outros desalojados por conflitos violentos são duplamente vulneráveis. Na verdade, “a fúria do vírus ilustra a loucura da guerra”, enfatizou o líder da ONU.

Acrescentou: “É o momento de travar os conflitos armados e de nos concentrarmos juntos na verdadeira batalha das nossas vidas.”

Retomando as linhas do apelo do líder da ONU, Bell acrescentou: “Sabemos por experiência que a relação entre conflitos armados e crises é complicada e conduz a resultados imprevisíveis. Se, contudo, esta imprevisibilidade for previsível – um “conhecido desconhecido”- pode ser colocada em prática uma resposta “inteligente”?” A nossa investigação em curso no Political Settlements Research Programme sugere que, provavelmente, os seguintes 11 entendimentos básicos serão a chave para conceber as mais eficazes respostas à pandemia da COVID-19 nas regiões afetadas pelos conflitos:

1. A implementação de soluções técnicas é sempre política e as “lentes de conflitos” são necessárias para antecipar a eficácia de qualquer resposta.
2. Os pacificadores de nível médio possuem capacidades únicas para transporem e criarem confiança entre o estado e as comunidades locais.
3. Pode ser necessária a ajuda flexível que possa contornar o Estado nas áreas controversas.
4. A gestão de crise pode ter “dividendos de paz”.
5. As partes em conflito procuram muitas vezes obter ganhos militares e políticos, a coberto da resposta às crises.
6. As capacidades de mobilização dos atores armados estatais e não estatais e os seus cálculos políticos e militares, serão diferentes.
7. A COVID-19 pode apresentar desafios de logística únicos aos atuais processos de paz
8. A diplomacia e a manutenção da paz podem tornar-se “ausentes”.
9. A legislação sobre a emergência é uma resposta com perigos de conflito.
10. As eleições estão também de forma particular sob ameaça, com consequências específicas de conflito.
11. Uma falta de confiança jurídica internacional.

Como um sinal de apoio ao apelo do Sr. Guterres, as guerrilhas do Novo Exército Popular nas Filipinas ordenaram que parassem os assaltos e mudaram para uma posição defensiva, de 26 de março a 15 de abril, disse o Partido Comunista das Filipinas numa declaração.

Os rebeldes disseram que o cessar-fogo é “uma resposta direta ao apelo do Secretário-geral da ONU, António Guterres, a um cessar-fogo global entre as partes em guerra com o objetivo comum de combater a pandemia da COVID-19”.

A afiliada alemã do Prémio Nobel da Paz de 1985, IPPNW (Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear) também apoiou o apelo do líder da ONU para um cessar-fogo global.

“O vírus mostra drasticamente as mútuas dependências globais e a irresponsabilidade dos conflitos militares. As guerras e conflitos de longa duração no Iémen, Líbia, Síria ou Afeganistão, por exemplo, enfraqueceram largamente os seus sistemas de saúde e tornaram milhões de pessoas particularmente vulneráveis à pandemia atual”, declarou Susanne Grabenhorst, presidente da organização IPPNW, a 25 de março. As sanções económicas impostas pela Europa / EUA também contribuíram para isso, afirmou. A PPNW está, assim, mais uma vez a apelar ao levantamento das sanções.

Além dos países do Médio Oriente, existe agora um número crescente de infeções em vários países africanos. A IPPNW está, desta forma, a pedir ajuda financeira e solidariedade internacional generosas para apoiarem os países com frágeis sistemas de saúde.
De acordo com as estimativas da OMS, até 2030 estarão em falta cerca de 18 milhões de profissionais de saúde nos países com rendimentos baixos e médios. A ajuda que foi prometida até agora não pode ser retirada devido à crise.

A IPPNW está também a exigir que os recursos militares sejam redirecionados no sentido de uma “conversão das armas” para finalidades civis, para o serviço de saúde e uma vida pacífica. “A pandemia não deve ser usada para desenvolver a militarização na onda da crise.”
A organização médica reprova claramente que o Secretário-geral da NATO, Stoltenberg, queira cingir-se à meta de 2%, apesar da pandemia do corona. “Este dinheiro no momento é urgentemente necessário para o setor da saúde que, nos últimos anos, também sofreu na Alemanha devido à sua economia e orientação para o lucro”, disse Grabenhorst. [IDN-InDepthNews – 25 de março de 2020]

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