Por Justus Wanzala
KAKUMA, Quênia (IDN) – Enquanto o sol se encolhe em uma bola vermelha e desaparece diretamente no horizonte, residentes do acampamento de refugiados de Turkana County, noroeste do Quênia, se ajustam às suas rotinas noturnas. Compradores tardios correm para as lojas de alimentos, crianças em idade escolar pegam seus livros e as mães preparam a última refeição do dia.
A escuridão rapidamente envolve o acampamento – que é administrado pela Agência de Refugiados da ONU (UNHCR) – e apenas alguns negócios e propriedades rurais estão na feliz posição de possuir geradores a diesel ou lanternas solares ou a querosene para fornecer iluminação.
Como a maioria dos lugares no norte do Quênia, o acampamento de refugiados de Kakuma – lar de cerca de 170.000 refugiados dos países vizinhos, como o sul do Sudão, Burundi, Somália e Congo, entre outros – está fora da grade, significando que o acesso a eletricidade para iluminação e outros usos é limitado.
Mesmo para os refugiados e pessoas deslocadas que ouviram falar das Metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDGs), a meta número 7, de “acesso a energia barata, confiável, sustentável e moderna para todos” parece um sonho distante.
Sem dúvida, viver sem acesso à eletricidade é algo que refugiados como Diana Byulwesenge, de Ruanda, aprenderam a conviver desde que o acampamento se tornou seu lar, há cinco anos. Ela reclama que a parafina que usa para cozinhar e para iluminação emite fumaça, e não é a fonte mais segura de energia para sua saúde e a dos seus filhos.
Ela diz que gostaria de acesso a energia solar, mas está preocupada com os gastos. “O dinheiro que eu recebo da UNHCR é suficiente apenas para alimentar minha família. Para cozinhar, eu uso lenha e carvão combustível ou em pedaços.”
Najma Hassan, outra refugiada, diz que usa um gerador a diesel para energia doméstica, e devido ao alto custo do combustível, ela o utiliza apenas para iluminação. Ela é forçada a comprar carvão para cozinhar.
Porém, Diana e Najma agora parecem ser beneficiadas por um projeto que garantirá mais acesso a energia limpa e barata para seu acampamento, e esta energia será suficiente para uso doméstico e suprir as microempresas.
A Iniciativa de Energia em Movimento (MEI) inaugurou projetos que beneficiarão refugiados em Kakuma, incluindo um hub para tecnologia de comunicação em informações de energia solar (ICT) no acampamento e clínicas de saúde que atenderão os refugiados e a comunidade local com energia solar.
MEI é uma parceria que envolve várias organizações: Chatham House, Energy 4 Impact, Practical Action, UNHCR e o Conselho Norueguês de Refugiados (NRC). O programa é financiado pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DfID) e seu parceiro principal é a UNHCR, que trabalha próxima ao governo queniano.
Sob os projetos, a energia solar será utilizada para fornecer serviços de educação e criação de oportunidades para empreendedores locais. Eles incluem negócios para carregamento de telefonia celular e pequenas lojas. Os refugiados e a população local serão treinados para o uso e manutenção de tecnologias de energia limpa.
O consórcio já tem projetos semelhantes em andamento em Burkina Faso e na Jordânia, destinados a abordar sustentavelmente as necessidades de energia dos refugiados e pessoas deslocadas, e as comunidades que os abrigam.
Duas empresas no Quênia, Kube Energy e Crown Agents, foram selecionadas para implementar os projetos do acampamento Kakuma, com a Kube Energy instalando sistemas solares em duas clínicas de cuidados primários operadas pelo Comitê de Resgate Internacional (IRC) no acampamento. A Crown Agents construirá uma ICT de energia solar e hub de aprendizagem para a comunidade deslocada que vive no acampamento e para sua comunidade hospedeira. O hub será usado para treinamento de habilidades e provisão de serviços comerciais para empreendedores locais.
Preve-se que os projetos usarão o hub de aprendizagem como local para vender sistemas de energia solar pay-as-you-go (PAYG – “pague quando usar”) aos residentes locais. Um aspecto significativo do projeto de um ano é que as reduções nas emissões de CO2 e acesso aos serviços e oportunidades de vida serão melhoradas.
Joe Attwood, Gerente do Programa MEI, explicou a que a meta do MEI é abordar desafios que a comunidade humanitária enfrenta para fornecer energia barata e segura aos refugiados. “Muitas tentativas foram feitas antes e muitas falharam, e estamos usando uma nova abordagem que traz as habilidades e experiências do setor privado para fornecer energia aos ocupantes do acampamento,” diz ele.
De acordo com Attwood, que não revelou o custo dos projetos, várias soluções de energia sustentável serão oferecidas, incluindo células fotovoltaicas que fornecem eletricidade a uma das clínicas em Kakuma e também a um hub de educação/comunidade.
Ele disse que os projetos eventualmente esperam financiar a si mesmos. “Muitos dos projetos de energia falham nos acampamentos de refugiados porque não há um pensamento a longo prazo para desenvolver a finança para manter os sistemas em operação. Nós queremos mudar isso usando habilidades do setor privado para criar rendimentos e usá-los para manter os sistemas em operação,” ele explicou.
Attwood também enfatizou que a iniciativa diminuirá a dependência da lenha para cozinhar, melhorando a saúde das pessoas e diminuindo o desmatamento, enquanto em termos de desenvolvimento social, melhorará a vida das pessoas.
“Nosso hub de educação e comunidade ajudará a treinar os refugiados e membros das comunidades locais para habilidades vocacionais/de empregos”, disse Attwood, acrescentando que o MEI está adotando intervenções para garantir que as populações vulneráveis não sejam exploradas porque “as duas organizações que financiamos reconhecem as vulnerabilidades sociopolíticas dos refugiados.”
Kate Hargreaves, diretora da Crown Agents Foundation, disse que pretende estabelecer uma ‘loja de conveniências’ movida a energia solar em Kakuma para acesso à internet, equipamento informático, treinamento de habilidades e eventos sociais, que estará disponível aos refugiados e à comunidade local.
Ela reforçou a fala de Attwood observando que cuidados foram tomados para garantir que as instalações sejam acessíveis aos refugiados e à comunidade local. Ela acrescenta, “devido à tecnologia que estamos usando, podemos manter os custos baixos.”
De acordo com Hargreaves, o projeto estimulará uma redução na poluição doméstica e diminuirá a pegada do carbono em Kakuma.
Quando informadas sobre o projeto, Diana e Najma ficaram entusiasmadas, e Najma disse que espera que o MEI introduza um aparelho solar multiuso que possa ser usado para fornecimento de energia para iluminação e cozinhar. [IDN-InDepthNews – 26 de julho de 2017]
Foto: Najma Hassan cozinhando em sua cozinha no acampamento de refugiados de Kakuma, Quênia, Créditos: Justus Wanzala | IDN-INPS