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Mulheres africanas respondem à emergência da fome durante a COVID-19

Ponto de vista de Linda Eckerbom Cole

A escritora é a Diretora/Fundadora do African Women Rising e desloca-se entre Santa Bárbara, na Califórnia, e Gulu, na Uganda.

SANTA BÁRBARA, Califórnia (IDN) – O African Women Rising (AWR) criou uma campanha para construir 2.000 novos jardins de permacultura, o que ajudará a alimentar 15.000 pessoas em situação de risco que estão enfrentando escassez de alimentos devido à COVID-19. Os jardins de permacultura possibilitam que as comunidades satisfaçam as próprias necessidades alimentares e são uma solução de longo prazo para a fome.

Já faz dois meses que Margaret não consegue vender seus peixes no mercado da região. As restrições implementadas para evitar a propagação da COVID-19 no norte da Uganda provocaram consequências devastadoras para ela e sua família. Sem outras fontes de renda, a família está com dificuldades.

Margaret é idosa e não tem forças para trabalhar no campo. Como o marido é cego e tem a saúde debilitada, Margaret é a principal responsável por sustentar os oito netos sob os cuidados do casal. Eles reduziram o consumo de alimentos para uma vez por dia.

Essa é a situação de muitas das mulheres nas comunidades onde o African Women Risin atua.

As restrições também estão afetando o 1,4 milhão de refugiados do sul do Sudão na região, pois eles são incapazes de acessar os mercados, os campos agrícolas ou outras fontes de renda. Para agravar a situação, o Programa Alimentar Mundial (PAM) reduziu as distribuições de alimentos devido à falta de financiamento. Os refugiados recebem alimentos uma vez por mês, mas eles só duram duas semanas.

Em resposta, o African Women Rising está expandindo rapidamente o nosso programa de jardins de permacultura para alcançar as famílias mais vulneráveis e com insegurança alimentar, tanto nos campos de refugiados como nas comunidades de acolhimento. Um jardim de permacultura é um método comprovado e regenerativo que pode começar a produzir alimentos no prazo de duas semanas e é capaz de sustentar uma família por vários anos.

Mais do que ensinar técnicas, os programas de Culturas e Jardins de Permacultura com Design Resiliente do African Women Rising compartilham os princípios por trás do manejo da água e do solo e desenvolvem uma compreensão contextual para projetar um sistema que seja o mais produtivo e regenerativo possível. Os programas do AWR têm 24 indicadores diferentes focados na agroecologia que eles acompanham.

O objetivo geral do Programa de Jardins de Permacultura é aumentar o acesso a fontes diversas e nutritivas e quantidades adequadas de frutas e legumes durante todo o ano. Os fazendeiros fazem isso através do projeto e da construção de pequenos jardins de permacultura em torno de suas residências.

O método do jardim de permacultura combina componentes da permacultura – uma abordagem agrícola que utiliza princípios do design para aproveitar sistemas naturais para a produção – e da agricultura biointensiva, uma abordagem agropecuária que maximiza a produção de culturas através de práticas sustentáveis que aumentam a biodiversidade, a fim de criar um complexo altamente produtivo.

Ele foi desenvolvido para funcionar tanto na estação chuvosa como na seca e é uma abordagem que envolve todo o complexo, melhorando a fertilidade do solo e o manejo da água para produzir alimentos nutritivos. O método mostra como agricultores com um pedaço pequeno de terra conseguem produzir alimentos durante todo o ano ao aprender os princípios corretos por trás da plantação e da gestão de recursos e ao unir esses princípios às práticas fundamentais.

A abordagem ajuda a satisfazer as necessidades alimentares de curto prazo dos agricultores do programa ao mesmo tempo em que desenvolve sua resiliência no longo prazo. Os agricultores aprendem a gerir os recursos naturais através do design intencional de seus complexos, da coleta de água e do fluxo de resíduos para melhorar a fertilidade e a produtividade das hortas.

A gestão das árvores existentes e o plantio de outras árvores frutíferas e multifuncionais, uma cerca viva e outras plantações de biomassa fornecem materiais para construção, substâncias contra pragas, nutrientes para a estação seca e remédios. Isso ajuda a reduzir as pressões sobre o meio ambiente – como a obtenção de lenha, a coleta de alimentos silvestres, a queima de carvão – que continuarão se agravando com o passar do tempo.

Para alcançarmos outras 2.000 famílias vulneráveis (impactando mais de 15.000 indivíduos), precisamos arrecadar US$ 200.000,00.

Um jardim custa apenas US$ 100 e inclui:

  • três partes separadas de treinamento, com duração de três dias cada,
  • sementes e árvores frutíferas, e
  • visitas mensais e suporte técnico durante um ano.

Mary começou seu jardim de permacultura em 2014. Viúva, sem-terra e responsável por quatro netos, sua vida pode ser um desafio. Seu jardim de permacultura fica bem ao lado da casa e esbanja produção durante todo o ano. Ela cultiva mamão, tomate, abóbora, quatro tipos de verduras, cebola, inhame, pimentão, quiabo, maracujá e frutas cítricas.

Em 4,5 m2, ela consegue produzir o suficiente para sempre ter algo para comer. Ela inclusive produz comida a mais, a qual tem vendido no mercado e para os vizinhos. Com essa renda semanal, ela tem conseguido comprar itens essenciais, como sal, sabonete e materiais escolares. Ela também investiu em galinhas e em cabras.

O sucesso de Mary não é exceção. Resultados como esse são comuns no nosso programa de Jardins de Permacultura, e temos os dados para comprovar. As famílias obtêm segurança alimentar, uma nova fonte de renda, podem investir em bens, matricular os filhos na escola e pagar assistência médica. Os jardins de permacultura podem proporcionar alívio em tempos de instabilidade, um auxílio que não é apenas paliativo, mas que oferece soluções de longo prazo.

Ajude-nos a difundir o sucesso da Mary para aqueles que mais precisam. Seu apoio pode contribuir muito para garantir que mulheres como Margaret tenham as ferramentas e as habilidades necessárias para sustentar suas famílias agora e daqui a muitos anos.

Devido à pandemia da COVID-19, a Uganda foi efetivamente fechada. Desativamos temporariamente os nossos programas, exceto por um aumento nas atividades agrícolas direcionadas e regenerativas para garantir que as pessoas tenham acesso a alimentos.

Nossos funcionários foram realocados em resposta à COVID-19, especialmente nos campos de refugiados. Há 1,4 milhão de refugiados em 11 campos no norte da Uganda. Um surto nos campos levaria a um desastre humanitário. Além dos programas de Jardins de Permacultura, o African Women Rising está distribuindo sabonetes, instalando estações para a lavagem das mãos e fornecendo informações sobre como evitar a disseminação do vírus. Esta é uma emergência crítica. [IDN-InDepthNews – 13 de junho de 2020]

Foto: Margaret com uma de suas netas. Crédito: Brian Hodges para o African Women Rising.