Por J Nastranis
NOVA YORK (IDN) — Centenas de milhares de haitianos, e 102 funcionários da ONU, perderam suas vidas e milhões foram gravemente afetados pelo terremoto devastador que atingiu esta nação do Caribe dez anos atrás, no dia 12 de janeiro.
O incidente está entre os 10 terremotos mais mortais da história da humanidade, de acordo com um recente do relatório do OCHA (Departamento das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários). No entanto, o plano humanitário de $ 126 milhões de dólares para o Haiti, lançado em fevereiro, recebeu apenas 32% de financiamento:
Em uma mensagem de vídeo no 10º aniversário do terremoto no Haiti, o Secretário Geral da ONU, António Guterres, elogiou “a resiliência do povo haitiano e o apoio de seus muitos amigos para superar esse desastre”. Porém, de acordo com o relatório do OCHA, a deterioração das condições econômicas em 2019 — incluindo baixa taxa de crescimento, inflação alta e aumento no custo de alimentos básicos — teve um impacto negativo na situação humanitária nesta nação do Caribe.
O impacto adverso continua a ser sentido. Conforme declarado pelo departamento de assuntos humanitários da ONU, OCHA, em 27 de dezembro de 2019, prevê-se que o número de haitianos que não têm comida suficiente para comer deve ultrapassar quatro milhões este ano, acima dos 3,7 milhões em 2019.
O chefe da ONU garantiu “o apoio contínuo da comunidade internacional” para permitir que o Haiti alcance os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o completo “fortalecimento das instituições que são cruciais para o bem-estar e a prosperidade de seu povo”. Guterres renovou “o compromisso das Nações Unidas de ajudar o Haiti e seu povo a construir um futuro melhor”.
Mas, conforme evidencia o relatório do OCHA, a alta inflação e o aumento no custo de alimentos básicos tiveram um impacto negativo na situação humanitária nesta nação do Caribe. Ao mesmo tempo, a insegurança e as tensões sociais restringiram o acesso dos trabalhadores humanitários a uma grande parte do país.
Subsequentemente, o número de haitianos que enfrenta a insegurança alimentar subiu dos 2,6 milhões em 2018, para 3,7 milhões em 2019. O OCHA prevê que este número chegue a 4,2 milhões até março, com a possibilidade de cerca de 1,2 milhão de haitianos passar por “níveis de emergência” de insegurança alimentar.
“A situação deve permanecer instável pelos próximos meses, o que enfraquecerá ainda mais a economia do país e, consequentemente, a capacidade dos haitianos mais pobres de atender às suas necessidades básicas, bem como a capacidade do Estado de fornecer serviços essenciais”, disse a agência.
O OCHA e seus parceiros assistiram 455.000 pessoas no Haiti durante os primeiros nove meses do ano. No entanto, a falta de financiamento os impediu de ajudar ainda mais. Um plano humanitário de 126 milhões de dólares para o Haiti, lançado em fevereiro, recebeu apenas 32% de financiamento: entre os mais baixos do mundo, de acordo com o OCHA.
As organizações humanitárias estão buscando $ 252 milhões de dólares para assistir mais de dois milhões de pessoas no Haiti em 2020. No geral, 4,6 milhões de cidadãos, ou cerca de 40% da população, principalmente mulheres e crianças, precisarão de assistência urgente.
Nesse contexto, o Conselho de Segurança da ONU enfatizou a necessidade de resolver o contínuo impasse político no Haiti entre o Presidente Jovenel Moïse e um crescente movimento de oposição.
Os membros do Conselho emitiram uma declaração em 9 de janeiro, descrevendo a necessidade imediata de as partes iniciarem um diálogo inclusivo e aberto para formar um governo que responda às necessidades do povo.
Além da instabilidade política, o Haiti também enfrentou escassez de combustível, escândalos de corrupção e outros desafios, levando cidadãos irados a ir às ruas.
“Os membros do Conselho de Segurança lembraram da necessidade de o governo do Haiti abordar as causas subjacentes da instabilidade e pobreza no país. Eles pediram a todas as partes interessadas que se abstenham de violência e resolvam diferenças através de meios pacíficos”, afirmou a declaração.
Eles enfatizaram ainda a necessidade urgente de lidar com a deterioração das condições humanitárias no país, com o apoio da ONU e da comunidade internacional.
O Conselho de Segurança também pediu ações para combater os recentes picos de violência, acrescentando que os responsáveis devem ser responsabilizados. Eles se referiram particularmente ao massacre de civis em novembro de 2018 no bairro de La Saline, na capital, Porto Príncipe, e ao assassinato de cerca de 15 pessoas um ano depois, em confrontos armados no distrito de Bel-Air.
Conforme noticiado pela ONU News, os membros do Conselho também instaram as partes interessadas haitianas a que continuem a aproveitar o recém-criado Escritório Integrado da ONU no país, que trabalha para fortalecer a estabilidade política e a boa governança.
O escritório, conhecido pelo acrônimo francês BINUH, começou a funcionar em outubro, após o fim de 15 anos de operações de manutenção de paz da ONU no Haiti. [IDN-InDepthNews – 11 de janeiro de 2020]
Foto: Um assentamento informal em Porto Príncipe, Haiti. Crédito: UN-Habitat/Julius Mwelu.