Por Julia Zimmerman*
VIENNA (IDN) – Ao pensar na guerra e em seus perigos inerentes, o primeiro pensamento é provavelmente morte no campo de batalha e a perda profunda de vidas humanas que a acompanha; porém, os soldados não são as únicas vítimas da guerra. Os civis também são fortemente afetados, e o impacto pode ser especialmente arrasador para as mulheres.
Na conferência ACUNS da ONU em Viena,, Ismail H. Balla, Chefe do Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento (UNODA) com sede em Viena, disse que era incumbente da comunidade internacional abordar a violência sistemática enfrentada pelas mulheres antes, durante e depois dos conflitos. Ele citou o Maj. General Patrick Gammaert, que como Subcomandante das Forças da Missão da ONU na República Democrática do Congo em observou: “Agora é mais perigoso ser mulher do que um soldado nas guerras e conflitos modernos.”
À face das realidades das guerras contemporâneas, Balla observou que as organizações internacionais, exércitos, advogados e ONGs estão se esforçando para mudar o status quo e integrar mulheres na gestão de conflitos, no exército, e na construção da paz.
Por exemplo, o General Brigadeiro Dr. Walter Feichtinger, Chefe do Instituto de Apoio à Paz Mundial e Gestão de Conflitos na Academia Nacional de Defesa da Áustria, é um campeão da igualdade de gêneros no exército. Falando na conferência ACUNS, ele enfatizou que os tempos mudaram: “As mulheres no exército são a nova atualidade normal no exército austríaco. ”
Na realidade, a Áustria começou a integrar soldados do sexo feminino há mais de vinte anos, e as mulheres agora formam quase 600 das 15.000 tropas totais. O Brigadeiro Feichtinger vê a Academia Nacional de Defesa como exemplo para outras instituições sobre como mudar os pensamentos sobre valores como igualdade de gênero. Ele observou que, ao trabalhar para a eliminação da violência sexual relacionada a conflitos e restaurar a paz, a inclusão de líderes mulheres nas operações militares e processos de paz é fundamental. “As mulheres são parte integral de uma segurança abrangente, e também seus pensamentos e percepções.”
Karuna Parajuli, advogada nepalesa e formanda da Bolsa UNODA para Mulheres para a Paz: Programa Global Sul, também é incisiva sobre a importância de aumentar o papel das mulheres em negociações de paz pós-conflitos. No Nepal, ela trabalha com ONGs locais para oferecer representação legal gratuita para mulheres que foram vítimas de violência relacionada a conflitos.
O conflito armado no Nepal (1996-2006) deixou para trás muitas mulheres vítimas de violência, particularmente violência sexual. Ao trabalhar com estas vítimas, Parajuli precisa enfrentar o desafio de que as mulheres ainda temem falar abertamente sobre suas experiências, mesmo após tantos anos. No Nepal, assim como em muitos países, a violência sexual é fortemente estigmatizada, fazendo com que as vítimas temam repercussões sociais negativas ao compartilharem suas histórias.
Ingeborg Geyer, Representante da Zonta International da ONU em Viena, ainda destacou o uso de violência sexual, particularmente estupro, durante conflitos. Ao enfatizar que o estupro é um dos atos mais intrusivos e prejudiciais relacionados a guerras, Geyer observou que o que vem depois pode trazer consequências graves para mulheres e sociedades. Adicionalmente, a extensão e intensidade de um estupro durante um conflito armado pode causar condições de saúde severas, como fístulas vaginais.
O tráfico de humanos é outro risco enfrentado por mulheres durante épocas de guerra. Jean-Luc Lemahieu, Diretor da Divisão de Análise Política e Relações Públicas no UNODC (Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes), trabalhou para chamar a atenção sobre o problema de tráfico de humanos pela Campanha Coração Azul da organização. Ele indicou que 71% de todos os seres humanos traficados são mulheres, acrescentando que o tráfico de humanos é frequentemente usado para gerar lucros em economias em pobreza durante épocas de conflitos.
Indo além, está claro que, ao combater a violência sexual, tráfico de humanos e outros problemas relacionados a gênero ligados a conflitos e guerra, o paradigma 3P é fundamental: prevenção, proteção e processo. Aumentar o papel das mulheres em lideranças políticas também é importante. Como Parajuli indicou, o Parlamento do Nepal agora tem 33% de mulheres, uma grande conquista.
Como aluna da Bolsa UNODA para Mulheres para a Paz: programa Global Sul, Parajuli recebeu treinamento aprofundado sobre principais aspectos conceituais e práticos do desarmamento e problemas relacionados ao desenvolvimento. Como observado pelo Chefe Balla, da UNODA em Viena, tal treinamento é parte da resposta coerente, coordenada e dentro do contexto necessária para permitir que jovens como Parajuli sejam catalisadores importantes para mudanças, pois eles desafiam a impunidade e buscam a justiça para as mulheres no contexto de guerras e conflitos. [IDN-InDepthNews – 26 de janeiro de 2018]